Como o Crédito de Carbono Pode Transformar a Produção Agrícola em Mato Grosso

Lachesia Inagolor
By Lachesia Inagolor 5 Min Read
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O crédito de carbono surge como uma alternativa promissora para impulsionar a produção agrícola em Mato Grosso, especialmente no contexto da soja. Mecanismos de crédito de carbono e pagamento por serviços ecossistêmicos estão se destacando como soluções viáveis para reduzir as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção de commodities. Um estudo recente revela que a combinação de diferentes instrumentos financeiros pode facilitar a conservação e o restauro de áreas agrícolas, promovendo a sustentabilidade na agropecuária do estado.

A coordenadora regional do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Fernanda Xavier, enfatiza a importância de tornar as ações de conservação financeiramente viáveis. Segundo ela, muitas iniciativas enfrentam altos custos e a falta de retorno financeiro adequado. Para reduzir a dependência de doações e investidores, é fundamental que as ações de conservação se sustentem por meio dos resultados obtidos na redução de emissões. Essa abordagem pode transformar a forma como a produção agrícola é realizada em Mato Grosso.

O estudo intitulado “Alavancando instrumentos de carbono para sustentabilidade financeira em uma iniciativa de paisagem de soja” foi desenvolvido pela Proforest em parceria com o IPAM, Estratégia PCI e Produzindo Certo. O financiamento foi viabilizado pelo Land Innovation Fund, através do projeto “Paisagens Sustentáveis e Inteligentes para o Clima no Oeste de Mato Grosso”. Os pesquisadores sugerem a adoção de uma combinação de instrumentos financeiros para promover paisagens sustentáveis em uma escala maior, beneficiando tanto a produção agrícola quanto a conservação ambiental.

Dados do MapBiomas revelam que, desde 1985, Mato Grosso perdeu 23 milhões de hectares de vegetação nativa, o que representa cerca de 32% da cobertura original do estado. Durante o mesmo período, as áreas de pastagens e lavouras cresceram na mesma proporção, resultando em um aumento de 130%. Essa transformação no uso do solo impactou diretamente a produção agropecuária, levando a eventos climáticos mais frequentes, como chuvas irregulares e secas prolongadas, que afetam a produtividade.

A iniciativa Paisagens Sustentáveis no Oeste de Mato Grosso visa ampliar a produção agrícola sustentável, conciliando a conservação da vegetação nativa com a inclusão de pequenos agricultores e comunidades tradicionais. O projeto está alinhado à Estratégia PCI, que busca captar recursos para otimizar a produção agrícola na região. As ações estão sendo implementadas em seis municípios, promovendo um modelo de produção que respeita o meio ambiente e beneficia a economia local.

Entretanto, o estudo também aponta desafios para a implementação dos instrumentos financeiros. Muitas ferramentas de benefícios por emissões evitadas ainda enfrentam inseguranças jurídicas e falta de institucionalização. Embora iniciativas como o REDD+ Jurisdicional tenham se mostrado eficazes no financiamento da conservação, elas não se aplicam diretamente a atividades de restauro e agricultura regenerativa. A variação nos valores de pagamento, que pode oscilar entre US$ 10 e US$ 150, contribui para a instabilidade financeira de alguns projetos.

Pauline Denis, gerente de projetos da Proforest, destaca que uma única ferramenta não pode atender a todas as demandas. Embora a conservação seja relativamente barata e o crédito de carbono possa cobrir esses custos, o mercado de carbono não é suficiente para atender às necessidades de restauro e agricultura regenerativa. A falta de alinhamento entre o custo de implementação e o preço pago pelo carbono reforça a necessidade de uma abordagem combinada para garantir a viabilidade econômica das iniciativas.

As atividades da iniciativa incluem a conservação e o restauro em fazendas de soja, promovendo a geração de créditos de carbono por meio da redução e remoção de gases de efeito estufa em áreas preservadas. Essa estratégia busca fortalecer um modelo de produção mais resiliente às mudanças climáticas, garantindo a conservação da vegetação nativa e condições favoráveis ao cultivo. Assim, o crédito de carbono pode se tornar um motor para a sustentabilidade e a produtividade agrícola em Mato Grosso.

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