O financiamento da inovação por meio de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) tem ganhado espaço no Brasil, sobretudo entre empresas de base tecnológica e startups com fluxo de recebíveis recorrente. Para Rodrigo Balassiano, especialista em fundos estruturados e análise de crédito, esse tipo de operação representa uma alternativa interessante ao crédito bancário tradicional, mas exige atenção redobrada à avaliação dos riscos envolvidos, especialmente quando se trata de risco de mercado e de produto.
Risco de mercado e de produto em FIDCs de inovação
Em FIDCs voltados à inovação, o risco de mercado está relacionado às variáveis externas que podem impactar o desempenho da empresa cedente, como mudanças tecnológicas, barreiras regulatórias, alterações no comportamento do consumidor ou entrada de novos concorrentes. Já o risco de produto refere-se à incerteza quanto à aceitação da solução ofertada, à escalabilidade do modelo de negócio e à consistência das receitas projetadas. A interação entre esses dois riscos determina a solidez da carteira e a previsibilidade dos recebíveis.

Rodrigo Balassiano explica que, ao estruturar um FIDC de inovação, é fundamental realizar uma análise aprofundada do setor em que a empresa atua, incluindo a maturidade do mercado-alvo, a penetração da tecnologia e o potencial de crescimento. Modelos de negócio ainda em fase inicial, com histórico limitado de faturamento, tendem a apresentar volatilidade elevada, o que demanda critérios mais restritivos de elegibilidade dos ativos. A transparência das informações e o compromisso com boas práticas contábeis são elementos que auxiliam na mitigação desses riscos.
Metodologias de análise e mitigação de riscos
A avaliação de risco de mercado e de produto pode ser conduzida por meio de metodologias qualitativas e quantitativas. Análises SWOT, estudos de viabilidade e benchmarking com players similares ajudam a contextualizar o posicionamento da empresa e a identificar seus diferenciais competitivos. Do ponto de vista quantitativo, é possível acompanhar indicadores como churn rate, lifetime value (LTV), custo de aquisição de clientes (CAC) e histórico de inadimplência, que fornecem sinais objetivos sobre a sustentabilidade do modelo.
Uma estratégia comum para mitigar riscos em FIDCs inovadores é a adoção de estruturas de subordinação robustas. Cotas subordinadas funcionam como amortecedor de perdas iniciais e oferecem maior proteção aos investidores seniores. Também é recomendável prever cláusulas contratuais que permitam o ajuste dinâmico dos critérios de elegibilidade, de acordo com a performance dos ativos ao longo do tempo. Segundo Rodrigo Balassiano, essa flexibilidade é essencial em ambientes de rápida evolução tecnológica, onde o risco pode se transformar com agilidade.
Importância da governança e do acompanhamento contínuo
Fundos que operam com ativos de inovação precisam de uma governança ativa e especializada. É importante que o comitê de investimentos conte com profissionais familiarizados com o ecossistema de startups e que haja uma interlocução constante com os cedentes. O monitoramento contínuo da carteira e a atualização das projeções são medidas indispensáveis para manter a aderência do fundo à sua proposta de risco-retorno.
Outro ponto relevante é a qualificação dos prestadores de serviço envolvidos. A presença de administradores, custodiantes e consultores experientes contribui para o controle adequado da operação. Rodrigo Balassiano ressalta que, em FIDCs inovadores, a diligência prévia e a transparência nos relatórios são ainda mais cruciais, pois ajudam os investidores a compreender a lógica por trás dos ativos adquiridos e a antecipar eventuais impactos no fluxo de caixa.
Considerações finais
Avaliar o risco de mercado e de produto em FIDCs focados em inovação exige uma abordagem criteriosa, adaptada às particularidades de empresas emergentes e de setores em transformação. A combinação entre análise setorial, métricas operacionais, estrutura de proteção e governança sólida é o que assegura a viabilidade do fundo e protege os interesses dos cotistas. Como afirma Rodrigo Balassiano, a inovação só se sustenta quando acompanhada de uma gestão de risco técnica, transparente e preparada para lidar com incertezas.
Autor: Lachesia Inagolor